sexta-feira, outubro 12, 2007

Mau-olhado...

Qual a probabilidade de se encontrar o passado no meio da noite por duas vezes em lugares diferentes? Tem dias em que eu chego a ter certeza de que jamais conseguirei compreender o jeito dele ser. Tudo porque o mundo parece vibrar em cores enquanto ele enxerga os contornos das coisas e das pessoas desbotados. E o cheiro que lhe invade e embriaga não passa de parte de outra história que esqueceram de lhe contar quando criança. Os passos conquistados numa rua em preto e branco soam como em um filme tétrico, cheio de gente estranha que nem se interessa pelo que ele está fazendo ali. Ele é uma sombra perdida em meio a tantos semblantes cor de rosa. Certa vez a morte se sentiu tão sozinha que resolveu lhe fazer companhia e ela era uma parceira fiel, adorava sair com ele para todos os cantos. Claro que sua presença era desagradável, ele estava acostumado a andar sozinho e aquela parceira era extremamente impertinente. A ironia disso tudo é que quando ela resolveu ir embora o vazio que ficou foi tão grande que ele chegou a sentir falta. Desde então é uma tal de procura incessante atrás dos passos dela, mas até hoje nunca achou nenhuma pista do paradeiro. Ora essa! O que fazer com o tempo ocioso? O que lhe vem à cabeça são vontades que já perderam a graça, criatividade mandou lembranças... Enquanto isso a oficina do diabo trabalha a todo vapor, tentando compreender questões sem futuro como o porque dessa dor quando os olhos encontram nitidez num rosto de alguém que já foi, mas hoje, de verdade, nem é mais... E aquele beijo na boca que não era a dele?