quarta-feira, março 28, 2007

sweeter than honey


Numa tarde de domingo ele teve um encontro que provavelmente já havia tido no passado, porém sua infância foi marcada por momentos em sua maioria traumáticos e como sua memória seletiva não funciona muito bem ele acabou descartando algumas lembranças que talvez tenham sido agradáveis.

Através do vidro do carro o seu braço invade o interior para sentir um toque que lhe faz esquentar. É. O garoto-gelo começava a derreter a partir daquele momento. E as conversas que se sucediam noite adentro pela internet inundavam o seu quarto do pânico transformando-o no maior idiota que já se viu. Não havia mais amargura, só o garoto mais doce que mel. Cafona, ridículo, patético. Isso acontece. As viagens eram marcadas pelo toque na perna e as mãos que se abraçavam, enquanto que os domingos eram tórridos, eróticos e quentes dentro de um carro que, estacionado à beira da praia, lhe tomava todo o ar que existia, ou será que era a companhia? Mãos que buscavam lugares inapropriados, mas não encontravam porque o garoto não tinha pressa. Ele esperava e se excitava ainda mais com aquele jogo que se desenrolava por semanas. No estacionamento ou nas escadas de incêndio de um shopping o perigo era um motivo a mais que tornava tudo muito mais interessante. E o garoto tímido se via precisando esconder que era o cara mais facilmente estimulado só por conta de uma criação meio puritana que não lhe permitia assumir seu lado mais pervertido. Algumas músicas bonitas e outras bizarras eram a trilha sonora de tantos momentos que poderiam ficar marcados pra sempre se tudo não tivesse escorrido pelo ralo como algo insignificante que a gente joga fora. Mensagens, declarações, perfume que não saía da pele e o hálito com gosto de menta... Muitos admiram a merda que fazem antes de dar descarga, mas outros nem isso... Indiferença. E agora o garoto deve recorrer a memória seletiva para esquecer o que deve ou o que não deve. Porque velejar se tornou um esporte perigoso, enjoado e sofrível... O garoto complicado não quer mais saber de barcos... A não ser que quem segure o leme tenha um pouco mais de maturidade.

segunda-feira, março 05, 2007

velejando...


Será possível que se tornar uma nova versão de si mesmo é tão fácil quanto às vezes tudo faz parecer? Todas as suas diversas personalidades estão subjugadas a uma nova cara de bobo que esqueceu de ser frio e independente. Ele agora tem assuntos que ocupam sua cabeça todo o tempo, porque o barco que veleja pelos intermináveis oceanos tempestuosos encontrou um mar de calmaria onde uma brisa suave e agradável guia lentamente para onde ele deve ir. Sentir saudade em tão pouco tempo de abstinência só prova que é possível criar novas versões de uma mesma pessoa, porém é difícil saber até que ponto se tem controle sobre essas transformações. As noites de sexta feira continuam a engolir-lhe os pensamentos enquanto o ar lhe é roubado no quarto do pânico. Mas quem disse que tudo é perfeito na vida? Os poucos e preciosos minutos das noites de domingo compensam todo o peso do resto da semana. E o garoto complicado, embora mais complicado do que nunca, está feliz e solto... Não sei porque isso me passa uma sensação de insegurança... Ah, ser contraditório é ser natural.