segunda-feira, janeiro 08, 2007

um belo início


A virada do ano é sempre uma explosão de expectativa com todos os sentimentos positivos que se possa imaginar. Porém a festa, horas antes, é um massacre que se repete por todo mês de janeiro. Acordar todo dia é uma maravilha quando se pode levantar da cama e contemplar o mar através da janela do quarto, mas tudo se transforma num inferno quando o peso da realidade se instala em seus ombros com tanta força a ponto de fazer sentir a coluna estalar. Que perspectiva se pode ter quando o que se espera à frente é uma tortura física numa academia para construir um corpo desejável pelo biótipo desejado? Sua disposição é quase nula, mas a vontade, ué... Persevera. E quando o retorno pra casa traz a obrigação de se preparar para partir novamente para o trabalho? Ele não deveria nem pensar em reclamar do estágio como redator publicitário, algo exatamente inerente ao seu curso na faculdade e ao que sempre quis desde o primeiro período, mas porque ele reluta por dentro a aceitar que a porcaria do curso que ele escolheu não é o que ele quer de verdade? Isso é porque ele está no sexto período e precisa tomar um rumo? É porque ele tem 22 anos e parece reviver toda a pressão psicológica de um adolescente às vésperas de um vestibular? Ora essa! Que se danem todas as convenções! Como se não fosse muito ele ainda precisa contemplar as duas estrelas da casa seguindo suas vidas num brilho radiante, acompanhadas, lógico, de seus astros que, pelo visto, têm brilho próprio, mas não as ofuscam. E ele as admira de longe achando que tudo é tão perfeito... E para ele resta apenas o quarto selado e a vitamina de gosto amargo. Reclamar é um direito a todos permitido e por mais que existam pessoas em situações piores, cada um conhece exatamente a merda dos seus problemas e dizer que ignora-los é o melhor caminho é só hipocrisia. Tomar antidepressivos todos os dias pra não achar que vai morrer, ir trabalhar num estágio estressante só pra justificar o custo da faculdade e exibir uma falsa impressão de rumo tomado na vida, ser ofuscado pelas duas estrelas mais jovens que brilham tão mais fortes que ele, ver os amigos antigos felizes com outras pessoas e perceber que você já não tem mais tanto em comum com eles, ter novos amigos super legais, mas que por mais que sejam um porto seguro eles não são a sua tribo definitiva... E nem resolverão seus problemas. Boiar a deriva sem saber onde parar é uma merda. E toda essa conversa fiada de "deixa a vida me levar" não passa de psicologia barata pra que ninguém entre em paranóia por causa da falta de propósito na vida. Bom, ele não é uma pessoa totalmente sem propósitos, na verdade ele tem muitos. Porém todos eles a cada dia se aproximam mais de pura utopia. E ele não consegue tirar os pés do chão. Sintam-se agora todos convidados a criticá-lo, chamar-lhe de acomodado, vocês têm esse direito. Mas só adianto que isso provavelmente não vai surtir efeito algum. Talvez seja esse fatídico mês de janeiro, quando nada acontece por fora e tudo acontece por dentro... Às vezes a vida é ótima e às vezes a vida é uma merda.