Noites de agosto...
Já era bem tarde quando ele acordou de súbito daquele pesadelo perturbador. Pela janela ele notara os últimos pingos de chuva escorregarem e morrerem no parapeito. O choro do vento lamentava alto aos seus ouvidos e ao levantar-se e deparar-se com a morbidez das árvores em movimento através da janela ele se voltou para o interior da casa, talvez em busca de algum consolo de olhos claros, porém encontrou apenas solidão. Irremediavelmente ele se sentiu em casa. O garoto deu alguns passos em direção ao espelho cuja superfície lhe revelou uma surpresa. Calado logo à diante se encontrava alguém diferente, de olhar libertino e sedicioso, cabelos molhados e respiração ofegante. Em sua expressão era possível encontrar algo de familiar, embora a atmosfera obscena que o cercasse lhe fosse totalmente estranha. De súbito os dois garotos opostos se afastaram até se perderem de vista. A necessidade de um deles era partir o espelho em mil pedaços enquanto que o outro desejava a autonomia para si. Ao amanhecer, porém, já não se sabia quem vencera a disputa, quem permanecia no quarto era um garoto perdido cuja íris espiralava num ralo escuro e indecifrável.
E ele não mais sabia se estava acordado ou se ainda dormia...
E ele não mais sabia se estava acordado ou se ainda dormia...