quarta-feira, agosto 31, 2005

Noites de agosto...

Já era bem tarde quando ele acordou de súbito daquele pesadelo perturbador. Pela janela ele notara os últimos pingos de chuva escorregarem e morrerem no parapeito. O choro do vento lamentava alto aos seus ouvidos e ao levantar-se e deparar-se com a morbidez das árvores em movimento através da janela ele se voltou para o interior da casa, talvez em busca de algum consolo de olhos claros, porém encontrou apenas solidão. Irremediavelmente ele se sentiu em casa. O garoto deu alguns passos em direção ao espelho cuja superfície lhe revelou uma surpresa. Calado logo à diante se encontrava alguém diferente, de olhar libertino e sedicioso, cabelos molhados e respiração ofegante. Em sua expressão era possível encontrar algo de familiar, embora a atmosfera obscena que o cercasse lhe fosse totalmente estranha. De súbito os dois garotos opostos se afastaram até se perderem de vista. A necessidade de um deles era partir o espelho em mil pedaços enquanto que o outro desejava a autonomia para si. Ao amanhecer, porém, já não se sabia quem vencera a disputa, quem permanecia no quarto era um garoto perdido cuja íris espiralava num ralo escuro e indecifrável.

E ele não mais sabia se estava acordado ou se ainda dormia...

terça-feira, agosto 30, 2005

Disritmia...

Não dá mais.
Quantas vezes mais ele buscará brechas numa história que não é sua?
A mesma quantidade de vezes em que ele já pensou extravasar.
Quantas vezes mais ele fará isso a si mesmo?
A mesma quantidade de vezes em que ele já tentou negar.
Quantas vezes mais ele tentará fugir para em seguida se afogar?
A mesma quantidade de vezes em que ele já hesitou chorar.
Quantas vezes mais ele amaldiçoará a todos os expulsando de sua redoma?
A mesma quantidade de vezes em que ele já odiou lamentar.
Não dá mais.
E que se dane a falta de rima. Nada reflete melhor a disritmia insuportável da sua vida.

Garoto malcriado! Fique quieto e finja estar feliz!