terça-feira, julho 05, 2005

Um garoto e um clichê...

Um clarão forte o pegara de surpresa numa noite acompanhada de rostos mudos. Distraíra-se numa conversa previsível, tanto quanto o estrondo que se seguiu, e logo chegara à conclusão de que já deveria ter encerrado o papo há muito tempo. Uma chuva acirrada de repente lhe fazia uma visita à porta de casa sem a menor cerimônia e em menos de um minuto ele estava encharcado da cabeça aos pés. A maçaneta da porta girou quarenta e cinco graus até ele perceber que o movimento era, de fato, desnecessário, aquela casa mantinha-se aberta há um bom tempo. No interior, um breu lhe engolia a medida em que avançava em busca de um interruptor. "Clique". E ele permanecia no escuro. O raio que caíra há pouco provavelmente haveria de ter cessado a energia de alguma forma. Sua intenção era tatear até um cômodo ao final de um corredor que se iniciava do lado oposto ao salão de entrada, precisava arrumar velas, afinal, era esta a atitude comum naquele tipo de situação. Porém os seus olhos se voltaram para a entrada da casa. Seria seguro se aventurar no negrume à frente deixando para trás aquela porta aberta? "E se alguém entrar enquanto estiver lá dentro?" Pensava ele. "Talvez seja melhor trancá-la de uma vez". Porém a porta teimava em não fechar, "por que diabo ela tinha que emperrar justo agora?" Dizia ele não se dando conta de que o problema era culpa de sua própria negligência que lhe acompanhava há anos. Achou melhor esquecer o problema, trazer luz àquela escuridão parecia muito mais urgente. Com os braços esticados à frente do corpo ele seguiu cambaleando, da chuva que caía forte no interior da casa ouvia-se um ruído abafado, como se tentasse demolir o telhado. Mais alguns passos pelo corredor e um ranger de uma porta se abrindo o assombrou. "Quem está aí?" Silêncio. O som viera do andar de cima e, mesmo contra todas as leis de um filme típico de terror, ele resolvera checar sua origem. A escada estava há apenas alguns passos de onde ele se encontrava, em poucos segundos ele já estava na metade do caminho. A chuva ainda caía sobre o teto, sua roupa molhada intensificava-lhe o frio, a expectativa do que iria encontrar lá em cima arrepiava-lhe os pêlos do braço. E ao chegar ao topo ele o encontrou ali parado, fitando-o como um fantasma impertinente. Seus olhos o hipnotizavam num espiral que descia pela íris. Ele agora estava perdido.

O que acontecerá com o garoto complicado?